Fez-se

Fez-se leve, de infindáveis melodias pulsantes e cálidas.

Fez-se forte, de exaustiva escuridão em que se clareia o seu tom.

Fez-se poesia, quando já não mais havia tempo.

Fez-se “não-ser” quando lhe faltava fôlego de existir.

Fez-se ar, fogo, paz, caos, imensidão, embriaguez.

Fez-se o vazio do pó que restou.

Fez-se de restos de recomeços.

entendo tua parada

Hoje eu entendo  e respeito  toda a sua recusa em me ver. Não é que eu tenha algo de errado, ou tenha feito algo de errado, é que você simplesmente não quer. Ponto. E acredito que passei a entender quando coloquei esse ponto. Quando vi que eu não precisava ficar escarafunchando a história e tentando achar o meu descuido. Não foi um descuido, foi um bom encontro. Foi incrível ter te conhecido, foi alguém que entrou na minha vida e me fez repensar coisas, e eu gosto de quando as pessoas causam esse efeito em mim. A questão talvez é ter querido andar um pouco mais do seu lado, ritmando os nosso passos, como a gente bem se sentiria a vontade para andar. Só que você parou antes de mim, e essa tua pausa me fez pensar no vazio que ficou ao meu lado. Mas tudo bem, eu hoje respeito o seu querer, ou melhor, o seu não querer. E eu precisei não querer alguém que me quer pra entender um pouco mais isso. E a cada sentimento ruim, triste que eu tinha com a pessoa que me quer, eu pensei no quão seria pior se eu insistisse em te martelar com minha presença.

É uma pena, dói um pouco, mas tudo bem. A gente vai vivendo conforme vai entendendo, e o principal: a gente vai entendendo conforme vai vivendo.

um sol por dia

E depois de todo o caos que rondou minha mente, perpassando por todos os pensamentos negativos possíveis… E de como o coração se juntou com a cabeça numa bagunça indecifrável, e numa disputa de quem poderia estar na corda mais bamba… E depois de tudo isso, me aparece ela, que tem os clichês certos, que colam bem em mim, e me fazem acreditar em qualquer coisa, e me faz pensar que tudo pode ser o melhor que aconteceu pra mim. Ela que sabe me abraçar ao mesmo tempo em que ergue minha cabeça. Ela que sabe unir as palavras de tal modo que me leva a crer ser exatamente o que eu precisava ouvir.

E de agora em diante eu consigo olhar mais alto. Eu consigo imaginar em como eu posso respirar melhor, como posso ver o sol nascendo, e sorrir pra ele.

E agora coração e mente se reajustam aos poucos. E por todas as palavras que faltam pra explicar tudo isso, tem mais de mim fora dessa caixa, e tenho tentado tirar o melhor. E só vai pra quem merece.

uma bagunça por vez

E das várias formas de leitura que eu poderia fazer de tudo isso que tem acontecido, eu escolho tirar o óculos e fingir que não enxergo sem eles, que isso segue pela ordem da impossibilidade, não pela incapacidade. Mas as incansáveis palavras que rodeiam por minha cabeça não desistem de sair, e mais uma vez divago.

Ainda acho que uma hora vai ter um estalo, uma hora era bagunça vai ser só coisa boa, ainda que eu não reclame dos pensamentos perdidos em vão. Mas que aquele meu frio na barriga combine com o seu, que eu ainda nem sei quem é. E que nossa vida se encoste de maneira tal que pensemos juntos a melhor maneira de se encaixar.

E eu espero o dia em que eu já não me preocupe se o meu passo tá maior que o seu, ou se o meu deveria ser menor que o seu. Mas que eu veja que a gente caminha juntos muito bem, mesmo de um modo descompassado, mas que a nossa mão se encaixa quando a gente caminha.

E eu digo tudo isso a você que nem sei quem é, mas que sei que ainda nem conheci. É um modo de dizer que eu preciso passar por esse turbilhão agora, preciso chorar mais com a frustração, com a indiferença do outro. Eu ainda preciso cair mais um pouco, pra quando a gente se conhecer eu já ter as marcas que precisei carregar. Até lá é preciso esperar um pouco mais.

Vamos sentar nesse banco e ler um livro, enquanto aproveitemos das boas conversas daqueles que ousam sentar por aqui.

folha em branco, vida vazia

Uma folha em branco. E é exatamente assim que sinto a minha vida agora. Me sinto oca, vazia, só, perdida. Me perdi das pessoas, perdi as pessoas.

Me sinto parada, olhando um vagão em movimento, e as pessoas sempre em movimento, e só eu estou ali parada, vendo tudo acontecer.

Ao mesmo tempo eu só vejo a mim, me sinto, sinto cada parte do meu corpo imobilizada.

Em minha cabeça um monte de perguntas que ouso a respondê-las com as piores respostas, me vendo cada vez mais enterrada. Procurando meu lugar ao sol, e achando o canto da caverna mais frio possível.

Sons que me trouxeram ao fundo de mim, e soltar essas palavras frias:

What have I got to do to be heard?”

Elton John – Sorry Seems To Be The Hardest Word

 

And I loved the way you looked at me
And I miss the way you made me feel
When we were alone”

Shiver – Lucy Rose

 

So fly on, ride through
Maybe one day I’ll fly next to you
Fly on, ride through
Maybe one day I can fly with you
Fly on”

O – Coldplay

me sufocando

Isso esta me assustando muito. Eu de repente não consigo não pensar mais em você, de repente quero te ver.  Vou tentando me contentar com as lembranças do seu sorriso, do seu jeito de falar comigo, de me tocar. Sinto falta da hora que não falamos nada, e eu finjo olhar pra rua, mas minha atenção fica só em você. Sinto falta de ouvir parte do seu dia, de ouvira aquela trilha sonora que você colocou para nosso momento, e que já me fez baixar uma playlist e ouvir o dia inteiro pensando em você

E a cada hora que não te vejo, já faz eco em mim. Já perturba minha mente, me fazendo pensar em todos os motivos para você não me querer mais, e me machuco com todos, porque já te  quero além do que deveria, e não tenho o direito de te deixar descobrir isso. Sofro com todas as regras que alguém inventou um dia e que, não sei por qual motivo, eu devo seguir. Porque essas regras dizem que não posso falar com você, que não posso impor minha presença, mas você impõe a sua na minha vida sem nem saber.

Eu poderia te pedir pra pensar mais em mim, para se mergulhar mais em mim, pra chegar mais perto, me contar mais de você. Ainda que eu não pudesse te ver por dois torturantes dias, e ainda que eu faça disso o meu drama atual, quero que você me conte que pensa em mim, que ligue pra mim, que me deixe te ouvir, pra que eu recrie a sua presença de algum modo.

Mas não posso, não tenho esse direito. E alguém já disse que deveria ser assim, e eu devo seguir isso. Não sei ainda o por quê, mas vou seguindo. Eu estou perdendo a cabeça, e esse alguém deve estar certo.

se acostuAmar

Essa semana ouvi de uma pessoa que “amar é se acostumar”. E desde então essa frase ecoa em mim. Primeiro que quando pensamos em acostumar, vem à cabeça a ideia de com-viver, de fazer do amor uma rotina. E no final das contas é bem isso o que queremos mesmo. Ter aquela pessoa conosco sempre, dividir tristezas e alegrias, contar como foi o dia, falar do chefe chato, da senhorinha no ônibus que falava sem parar. E à esse costume dou o nome de segurança. É saber que aquela pessoa estará ali pra o que der e vier, pra quem você vai falar besteiras sem se preocupar se a pessoa vai te olhar com cara feia e não te ligar ou mandar um what’s no outro dia. É segurança. É o que te deixa encostar na poltrona à vontade, sem pensar em qual posição te favorece.

Bom, até aí tudo bem. Podemos pensar que amor é isso. E aí você abre a porta da sua vida, a pessoa entra, faz morada, você se acostuma, ou melhor, vocês se acostumam um com o outro, e não só, se acostumam também com a rotina do outro, criam uma rotina em comum. Aquela sexta que um sempre vai para a casa do outro e só volta no domingo. Você não se preocupa se vai acordar descabelada, com bafo matinal, com remela nos olhos, porque vocês já estão acostumados com isso, e não se importam. Tudo no outro é lindo.

E aí a vida vai passando, a rotina continua a mesma. A mesma. A mesma. E aí, quem tava encostado na poltrona passou a dormir, sem ver o tempo passar. E quando acorda, não tem nada para fazer, e fica entediado. Mas vai deixando assim mesmo, aguentando o tédio porque acha que é preciso, que faz parte. Até o dia que você se sufoca nele, se sufoca na rotina, se sufoca no que era de costume. E aí acaba o amor. E ele foi acabando em cada sonho que tinha de felicidade, quando não acordava pra realiza-lo. Mas você não o viu acabando, ele foi saindo de fininho. Até você levantar a bunda da poltrona e dizer: hoje eu vou me reacostumar.

falta futuro

E daí você passa anos confiando no futuro que escreve. Acreditando que ele será fiel à cada imagem que fantasiou. Que aquela mesma pessoa lhe acompanhará para a vida toda. E pensa minimamente que não há possibilidade de isso não acontecer. Pensa que é a forma feliz e fácil de seguir, e que não tem porque não ser assim. E porque não ser assim?

Tem algo lá no fundo que acontece, que faz a monotonia se confundir com tristeza, e a bagunça, o caos se confundir com felicidade futura. Sempre futuro, sempre esperando  o melhor dele. E agora? E o agora? Quem vai estar comigo? É a base de tudo acreditar que haverá alguém. Pula de um, passo pro outro, e nunca fica no meio do cerco. É injusto depositar toda a sua felicidade nas costas de alguém. É penoso não saber como é criar a própria forma de ser feliz.

É preciso aprender a viver só. É preciso sentir falta. É preciso falta, ficar no buraco, no vazio, no meio do nada. Agora é mais que preciso. É preciso não usar o outro como satisfação das fantasias. É preciso querer, desejar estar com o outro, pra poder amar o outro. É preciso sair da linha de conforto, a qual se escora pra pensar o mesmo.

É preciso se libertar daquilo que se criou sobre você mesma, e recriar formas diferentes de ser. Ainda que acabe passando todo o resto da vida com a mesma pessoa. Mas que isso seja um desejo, não uma necessidade.

É preciso aprender a viver só, ainda que seja com alguém.

avesso do avesso

Esse é o avesso do avesso, e assim me pareço com o que desconheço, mas não te peço adereços que me façam direito. Vou esquerdo e gosto do inverso.

Pelos grandes modos de fugir e partir. Repartir o que desmedir. Bem faz quando vem sem ti, e me faço assim, sem ir, vir ou fugir.

Vá! Partas logo, antes que escureça e jamais te apareça uma outra chance assim. Chance de ser assim, tão verdadeira quanto a mim, quando te aparece nua, despida de todo modo de julgamentos.

Não me venha ser travada, não me venha ser “confim”, sou resto de mares, que navegam por aí, por onde teus barcos passam, por onde sou cálida e gélida, sou caos e calmaria, sou voz e mudez, sou fogo e sou água, sou mar que deságua no seu rio.

Sou todo, sou oposto, do gosto ao desgosto. Sou avesso, do avesso.

Colcha de retalhos

Tem algum pedaço de infinito correndo em mim.

Tem um pedaço de mim que se constrói e me desfaço, de tal modo que não me acho.

Gosto de como um pedaço se transforma e me acalenta. Gosto dos passos lentos, gosto do prazer e da concretude. Gosto dele.

Gosto do teu modo que me inquieta, me desafia. Gosto de mim assim, desgostando dele. Gosto da raiva e do enojamento. Gosto do desgosto.

Tenho me perguntado se isso não me pareceria um desgaste mental. Não sei bem ao certo. Sei que não há nada nele que me pareça certo. É incerto, e assim gosto, assim acho esperto.

Tem um muro que separa palavras, mas gosto delas bem juntinhas, perto de uma lareira num inverno, assim como me vejo quente por dentro.

Me vejo e gosto do que vejo. É, gosto de me ver me vendo e gostando.

Gosto do pedaço de céu que tem em mim. Gosto das palavras soltas. Gosto assim.

Gosto enfim, em mim, sem fim. Confins.

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