Andar atento

Ele andava sempre atento. Havia quem dissesse ser desatento, desinteressado, e que olhava para o nada. Atentava-se ao que lhe interessava. E é pra lá que olhava.

O vidro que te protegia do que havia lá fora não te impedia de se deparar com todas as cores, movimentos, sons, e tudo o que o mundo te oferecia, e que não era pouco.

Havia quem ousasse imaginar e acreditar que de nada ele entendia. Quem nisso acreditava não entendia, não se atentava para o fato de que é preciso o mínimo de entendimento para se inquietar, protestar, e até se proteger do que entendeu.

Começou se afastando e parecendo difícil chegar perto. Impunha minha presença sem que deixasse pretendê-la. Seguia seus passos por lugar nenhum. Depois, o deixava ir, e ele olhava atrás, esperando a sua sombra.

Parecia um jogo de ping pong, em que a bola era o ‘não’. Uma hora a bola cai da mesa, e ele me olha. Olhar atento e interessado. Pedia abraço, pedia cócegas, pedia ajuda.

Atraía olhares por onde passava: de curiosidade, de alegria, de afeto. Sem que dissesse uma palavra, parecia “chamar conversa”, e não havia quem não quisesse falar com ele.

Tem uma marca sua por lá, que deixará ausência, falta, e principalmente crescimento. Crescimento do ser que habita em cada um que com ele esteve.

Ele agora busca outro caminho, sem olhar pra trás, mas não sem história, não sem lembrança. Só segue seu caminho.